do álbum "momentos"
eu fiquei muito indignada com a suspensão que tomei do facebook porque se tem uma coisa que essa foto NÃO é, mesmo sem o minion cobrindo o gru do zé celso, é pornográfica
senhoras, senhores.
foi quase, vai?
pulei uma semana só. tive saudades. assisti “get back”. tô me recuperando bem da cirurgia. sonhei com meus amigos da praia. o ricardo fez gelatina de abacaxi (sou contra). voltei a ler (lucia berlin). a flávia, como combinado, voltou. espero revê-los semana que vem. vem comigo. vem com a gente.
TV E OUTRAS PIRAS
volta
tava 7º C no dia em que os beatles subiram no telhado para seu último concerto. isso sem contar o vento, que certamente baixava ainda mais a sensação térmica.
(curioso eles terem literalmente “subido no telhado” justo ali quando estavam mesmo para terminar, embora jamais pudessem ter apreciado o trocadilho involuntário sem saber pt-br).
era o dia 30 de janeiro de 1969 e absolutamente TODAS as pessoas souberam que eram os beatles lá pelo meio da segunda música, embora as músicas fossem inéditas e o show não tivesse sido divulgado. acho que ajudava bastante o fato de estar rolando um “som misterioso” vindo do telhado de um prédio na rua onde eles tinham um estúdio.
e todas, absolutamente TODAS as mulheres estavam de minissaia. é um negócio impressionante a swinging london.
o show no telhado é meio que o ápice do que parece ter sido um processo longo (embora rápido) e doloroso (embora divertido): uma série de ensaios que deveriam resultar em um especial de TV gravado ao vivo e um álbum inédito. claro que eu estou falando de tudo isso porque acabei de assistir, meio ano atrasada, a “the beatles: get back” – o superdocumentário de oito horas do peter jackson, construído a partir de 60 horas de filmagens e 150 de áudio, captados nas três semanas do início de 1969 durante as quais os caras se encontraram quase que diariamente para tentar transformar em realidade essa ousada ideia do paul, e também para por a culpa no paul quando eles percebiam que, bem, nem todo mundo tava tão a fim assim de fazer um show ou gravar um álbum.
*
eu fiquei MUITO impressionada com “get back” e dei graças a deus por ter assistido agora, passado o (merecido) hype inicial. eu tava tão de saco cheio de ler o incensamento constante nas redes que provavelmente ia pender a não gostar, só pra desafinar o coro dos contentes. OU teria sido mais um anjinho a solfejar o quão humano, tocante e revelador o documentário é – porque é mesmo.
o fato é que não parece um doc, mas mais uma imersão. com intervenções mínimas – um breve contexto no início, GCs identificando músicas e pessoas que aparecem ao longo, no máximo um aviso quando pinta um take que foi usado no disco final (que, preciso me esforçar toda hora para lembrar, não chama “get back” e sim “let it be”) –, não parece que você está assistindo uma narrativa sobre algum evento, e sim testemunhando diretamente aquele momento na vida daquelas quatro pessoas e de tudo que gravitava no entorno deles, um momento que tem muita importância porque o que aconteceu ali, naquelas três semanas do último ano da década de 60, naquele estúdio em londres, com essas quatro pessoas, meio que ressoa até hoje.
(aliás, depois que eu terminei o doc, basicamente só tem ressoado isso nas caixas de som aqui de casa).
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assistir a “get back” me fez ver várias coisas que eu não tinha ideia ou até tinha ideia mas não visualizava muito, como por exemplo como o john lennon era um mala e como o paul mccartney tinha uma certa arrogância de quem acha o tempo todo que é o único a enxergar o óbvio. mas quem não é meio assim aos 27 anos, não é mesmo?
esse mesmo cara, que soa tão pedante em várias conversas, notavelmente AMAVA a banda, AMAVA ser músico (bom, hoje ele tem 80 anos e faz turnê, né), queria muito fazer alguma coisa boa e diferente e criativa e sabia que eles podiam fazer isso. e escrevia versos tão bonitos quanto “you and i have memories longer than the road that stretches out ahead”, o que soa como uma declaração sincera e pungente para o amigo de uma vida e parceiro de uma história que talvez ele percebesse estar acabando.
então, enfim, é muito legal. porque é muito bom ver como eram as pessoas de uma banda mitológica. as pessoas mesmo, não personagens criados pela imprensa, pelo público, pela história e pela fama. é isso que acontece quando você bota uma lupa e olha qualquer pessoa bem de perto, e é o que get back faz, bota uma lente de aumento e deixa você assistir.
outra coisa que “get back” faz é mostrar como londres, apesar de swinging, era chata pra caraio porque, no fim das contas, os caras tiveram a manha de interromper uma apresentação ao vivo, raríssima e de graça da maior banda da época após meros 42 minutos, por motivos de “reclamações por perturbação da paz”. e olha que era hora de almoço.
DO ÁLBUM MOMENTOS
“meu cu, o teatro”
entre 2014 e 2015 – acho que 14 – eu tomei a única suspensão do facebook da minha vida, por motivos de ter postado essa foto do zé celso em versão UNCENSORED.
eu fiquei muito indignada porque se tem uma coisa que essa foto NÃO é, mesmo sem o minion cobrindo o gru do zé celso, é pornográfica.
essa foto é a cara do zé celso, uma certa alegria anárquica em que estar pelado não é nada do que você implicita na sua cabeça. inclusive é ele no oficina.
eu tinha uma certa obsessão com o zé celso depois de ter assistido a uma entrevista em que ele dizia que tinha descoberto o teatro quando descobriu o próprio cu, e ele repetia isso enquanto apontava para o próprio cocoruto, fazendo uma relação “meu cu (aponta para o cocoruto), o teatro”.
o problema é que isso faz tanto tempo que eu não sei se sonhei ou se o zé celso fez isso mesmo, o que é perfeitamente plausível também.
e devido a essa obsessão, minha primeira estag, a camila – hoje uma profissional experiente e desde sempre uma mulher cheia de opiniões originais, que eu tive a sorte de conhecer novinha para eu poder me orgulhar toda vez que leio alguma coisa dela por aí – até hoje me manda um zé celso de presente em TODO aniversário, e eu fico muito feliz com isso.
CALMA, GENTE
arqueologia digital
não eram nem 10:30 da manhã de uma quinta-feira ensolarada e quente (os termômetros chegaram a marcar 30°C) quando, em 18 de janeiro de 2018, eu tava tentando acalmar o alexandre mas ele nem ligou.
O PASSADO E TANTAS PIRAS
triste e triunfante
quando eu trabalhava como redatora no buzzfeed brasil, ali pelos idos de 2015, teve um mês em que senti que tava voando.
já fazia um ano que eu tava na redação e, se eu tinha entrado sem saber tanto quanto meus colegas manu e capa sabiam de redes sociais (e eles não sabiam pouco, não), agora minha distância já tava razoavelmente diminuída. tanto que, no mesmo mês, eu cravei dois posts que tiveram muita repercussão, com diferença de menos de uma semana entre eles: um de nostalgia da adolescência dos anos 90, outro intitulado “15 provas de que tudo era permitido no Brasil nos anos 80 e 90”.
esse último virou o post original mais lido do brasil e assim permaneceu até eu deixar a redação, em 2019, uma época em que eu já estava quase fazendo a carlota joaquina e batendo meus sapatos na porta do prédio na pedroso (“dessa terra eu não levo nem o pó” e tal, embora a gente, no fim, sempre leve algo sim, muito na verdade; àquela altura o buzzfeed brasil já tinha virado OUTRA COISA).
junto com uma dezena de outros clássicos assinados por aquela redação (até hoje volta e meia eu recebo listas encaminhadas por whatsapp que são de textos meus mesmos, ou topo com álbuns de imagens no FB com montagens do capa ou do gaspar), o “15 provas etc” também foi provavelmente um dos post mais reproduzidos da história do buzz br. é só jogar o título no google e ver o que acontece.
curiosamente, a lista de resultados que o google vai mostrar não vai ter o link original. isso porque, descobri essa semana, esse post não está mais no buzzfeed brasil.
*
eu me lembro muito bem desse post porque ele foi feito na época em que eu estava tentando, pela segunda vez, uma fertilização in vitro para ter um bebê (claro, para que mais alguém tentaria uma fiv?, mas é que o ponto todo das tentativas se concentra em ter um bebê, não em ter seus óvulos extraídos etc, o que é só uma CONTINGÊNCIA – cara, em todos os sentidos – do processo, por isso decidi deixar aí expressamente essa redundância que vocês hão de perdoar).
e, pouco depois de um resultado positivo para gravidez, eu perdi o bebê, como é muito comum (seja em casos de fiv ou naturais) até a 12ª semana.
então esse post tinha ficado parado, e quando eu voltei para a redação não tava a fim de terminar, talvez eu não estivesse a fim de terminar nada, e a manu falou “encerra e posta, como está tá bom”. e a história de como esse post tinha começado, tempos antes de encalhar, é que um dia eu tava passeando na internet e topei com aquela maravilhosa propaganda de debate presidencial que achou por bem botar os candidatos finalistas, um de costas pro outro, com uma ARMA nas mãos; pensei “MAS QUE PORRA”; postei isso no meu facebook e a carina – aquela mesma, do sonho com os nudes do temer – comentou algo como “podia tudo no brasil nessa época”.
(isso na minha cabeça, né, não tenho links para provar ou cravar as palavras exatas e tals. mas foi bem tipo isso).
foi desse comentário da carina que surgiu o título, do qual eu me orgulho muito, porque acho uma tese muito certeira até hoje.
a partir dessa tese e dessa foto, fui juntando outras coisas das quais eu me lembrava ou que eu tinha achado por aí, como a capa do disco carnaval dos baixinhos, da xuxa, ilustrada por uma nenê de fio dental.
ou a propaganda de jeans que usava duas crianças seminuas montadas em uma motoca.
ou o interessante detalhe do que parece ser um isqueiro na meia de uma palhaça travesti na contracapa de um disco infantil, no caso o segundo disco do bozo.
sem contar estar na contracapa de um disco infantil com essa cara:
mas eu não imaginava o efeito que esse post ia ter.
*
quem lê esta newsletter há algum tempo já deve ter percebido o que a roberta percebeu há mais tempo ainda (e gentilmente me avisou, como ela fez e faz muitas vezes na minha vida; notar antes de mim mesma alguma coisa que eu sou e me avisar): eu sou muito CADELINHA das memórias. a roberta usou palavras mais poéticas, mas enfim. alguma coisa sobre
ao mesmo tempo, tenho uma bronca imensa daqueles que caem, por ação ou omissão, na famigerada cilada do “no meu tempo é que era bom”.
pois esse post do podia tudo no brasil, para meu completo espanto, virou ARGUMENTO DE SAUDOSISTA para DEFENDER uma época em que tudo bem botar criança pelada para vender jeans, ou desenhar um fio dental na bunda de um nenê para vender disco.
acho que nesse dia eu entendi que as pessoas leem o que elas querem ler, e que o subtexto pode ir muito – mas MUUUUITO – mais longe que o texto.
(mas boa parte dos leitores ficou de cara que aquelas coisas fossem permitidas 20 ou 30 anos atrás. gente que tinha vivido aquilo relembrou, como eu, espantada, e quem não tinha vivido se espantou mais ainda. eu ainda acho espantoso).
*
fiquei triste quando vi que o post tinha sido apagado, ou perdido, ou sei lá o que rolou. além de campeão de visualização, ele me lembra todas essas coisas e ainda reflete, diferentemente de muitas outras coisas que publiquei, meu sentimento sobre algo.
(sem contar o espanto inesquecível que ele me causou de ver que existia um jeito de escrever capaz de mobilizar igualmente pessoas com sentimentos DIAMETRALMENTE opostos).
poucos dias depois desses dois estouros de audiência – o post da adolescência dos anos 90 ainda tá lá no buzz, mas não vou linkar pois está quase totalmente quebrado das imagens, coitado – os aniversariantes de março sopramos velinhas de um bolo na redação sem janelas. tem uma foto em que aparecemos manu, alê e eu abraçados, eu segurando um isqueiro aceso na direção da câmera. olho para essa foto na minha memória e ainda vejo direitinho o quanto eu me sentia triste e triunfante.
☆☆☆ sras e srs, e como prometido… flávia pegorin ☆☆☆
Uma era no meu rádio
Ouvir sem ver é um ato de criatividade e uma meditação pra sua cabecinha
“Trã trã trã Traaaansamérica FM”. Era muito difícil cortar essa parte na hora de gravar a música. A gente posicionava a fita cassete, sintonizava a estação e ficava com o dedo no “rec” até ouvir a certa - e, se fosse aquela que passava o dia no seu pensamento, como “Smells Like Teen Spirit” no meu, era preciso muita rapidez e excelência pra acionar e desacionar o botão e garantir a cópia perfeita do disco que a gente não tinha dinheiro pra comprar. Dando tudo certo, assim nascia o amor pelo rádio.
Eu nem gostava da Transamérica. Rádio de babaca, tá louco, passou a meter a vinheta NO MEIO DA MÚSICA, só pra carimbar nossa preciosa gravação chupinhada.
“Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello, how low
TRÃ TRÃ TRÃ TRANSAMÉRICA FM
Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello”
... tenha dó…
Mas eu gostava de música, então era rádio colado no ouvido boa parte do dia. No quarto. Fazendo qualquer outra coisa, fosse arrumar a gaveta de meia ou pintar o tênis com canetinha, mas sempre com o rádio de companhia.
Imagina a alegria do primeiro walkman? A cena de “Stranger Things” que já ficou famosinha era real mesmo - walkman permitia elevação e movimento (mas eu não ligava muito pra Kate Bush, era mais a Debbie Harry). Porém walkman não tinha rádio. E sim, um dia a vontade por notícias chega.
Pra mim, notícia no rádio começou com gosto amargo pois meu pai obrigava a ouvir na carona pra escola O Pulo do Gato, baita programa de velho na Bandeirantes, daí ganhou certo sabor agradável quando o São Paulo fazia gol via narração gritada pelo José Silvério e ficou bem apetitosa no surgimento da CBN, “a rádio que toca notícia” - que sabiamente botou uma roupinha mais jovem na velha escalada de manchetes ruins.
Nunca foi difícil gostar de rádio. Aquele falatório sem fim, caçando assunto e música e notícia e mais assunto e opinião e mais música e mais assunto… Tudo sem uma imagem sequer, que poderia valer por mil palavras e poupar um falatório danado. É de se admirar, né, o rádio.
Podcast é rádio? Eu decidi fingir que é porque, bom, me peguei com ele também.
Estão lá as notícias, as músicas, o cinema, a política, a ciência, as historinhas, uuuu, os crimes verdadeiros e meio falsos - tudo comentado por horas e horas numa bela democracia de programas e de pessoas. Já disseram, maldosamente, que “tem mais gente fazendo podcast hoje do que ouvindo”. Pode ser. Todo mundo tem voz e quer usar (mesmo que nem todos devam).
Tem quem diga, ainda, que não gosta, não consegue ouvir. Muito longos. Muito áudio. Muito sem recurso visual pra hipnotizar. “Só consigo se estiver fazendo outra coisa”. Bom, eu lá no meu quarto ouvindo a malacabada Transamérica nos anos 1990 posso compreender isso. Mas quanta imaginação boa a gente constrói assim, usando da criatividade pras imagens, do som pro foco, do foco pra uma quase meditação intelectual.
A era do rádio tem um século e nenhuma hora pra acabar.
E esse comentário merece ser separado: eram os anos 90, Clá. Não era um esqueiro, era um canivete! *adicione aqui um emoticon de sorriso pacífico
"Iny, weeny, teeny, weeny, shriveled little short dick man"
Gillette em algum programa da Xuxa, em mil novecentos e noventa e "naquela época que era bom".