olá vocês que estão aí.
essa semana eu assisti duna (em cinco partes, que é como pessoas mortas de cansaço com a rotina de trabalho e dois filhos assistem filmes) e concluí que o timberley chardonay é lindo, sim, mas só até o jason momoa aparecer. o que me levou a escrever a primeira parte dessa newsletter.
(no mais, adorei o filme, não sei porque reclamaram tanto, 01 beijo denis villeneuve, te adoro).
além das reflexões sobre o defeito patente que todo ser perfeito demais tem que ter, hoje temos um exercício de memória sobre minha outrora olímpica capacidade de me apaixonar à distância e uma explosão de memória sem esforço algum, causada por uma foto que alguém querido demais me mandou de sopetão – e, nessas coincidências da vida, eu tinha pensado nessa pessoa poucos dias antes.
se está chegando agora por outros meios, considere assinar essa newsletter. se já é assinante, o meu mais sincero obrigada. eu ia escrever de qualquer jeito, mas o fato de vocês estarem aí me dá a coisa mais importante que tem (depois do amor, da imaginação, da inspiração, da engenhosidade, da determinação, do ar condicionado e da pizza): disciplina.
SÓ OUTRAS PIRAS MESMO
de longe
ainda bem que o jason momoa é bobo.
o “ainda bem” é porque um homem tão lindo, eu podia passar o resto da minha vida apaixonada por ele à distância. eu era boa em me apaixonar à distância.
o “é bobo” é porque, bem, eu segui ele no instagram um bom tempo. o instagram do jason momoa é tipo aquela tatuagem bichada do rodrigo hilbert com um bob marley, tão bichada que o bob parecia uma gal costa tipo ‘crlh caetano tô bem não’. é o ponto de equilíbrio no tao, o ponto que impede uma pessoa de ser fatalmente perfeita.
e nem precisava seguir o jason momoa no instagram para saber que ele é bobo, né?
já sobre a tatuagem do rodrigo hilbert, infelizmente um belo dia de julho eu estava bela e tranquila em casa quando recebi um zap fatídico da minha amiga kata:
agora precisamos arrumar outro defeito para o hilbert e eu tenho certeza que a primeira pessoa que poderia nos ajudar é a fernanda lima.
gostar das pessoas de longe é fácil.
VELHO É O MEU PASSADO
minha ideia de romance
então, eu costumava ser bem boa nisso de me apaixonar à distância.
a primeira paixão platônica de que eu me lembro foi pela cigarra de uma montagem de “a cigarra e a formiga” que minha mãe me levou para ver quando eu tinha, sei lá, uns 4 anos. a cigarra morreu e o berreiro que abri fez com que me levassem até as coxias para ver que o inseto ainda estava vivo, só que ele não estava: quem estava vivo era o ator.
ali eu já devia ter notado que, quando a gente entra na coxia, quem tá lá é a pessoa – às vezes com a maquiagem meio derretida, o figurino já meio capenga – e não aquele sonho bem iluminado do palco.
mas eu era olímpica, um assombro. me lembro de estar deitada no sofá da casa do bairro assunção, a casa da minha infância, ouvindo “as the world falls down” em uma FITA CASSETE e sonhando com algum tipo de paixão não encarnada, talvez o rei dos duendes do david bowie, um sonho com panos esvoaçantes e criaturas flutuando pelo espaço tentando se encontrar.
essa era a minha ideia de romance em 1986. eu tinha oito anos.
a próxima paixão de que eu me lembro foi pelo menino bonitinho da classe, eu já tinha uns 12 ou 13 anos e nenhuma chance com o cara popular. mas a gente trocava bilhetes na classe e ele correspondeu à minha paixonite por algum tempo, só que fiquei com medo demais de beijar na boca pela primeira vez e minha chance escapou.
levou um tempo, mas isso se revelou benéfico: quando entrei no perfil dele nas redes sociais e vi postagens chamando o golpe militar de revolução fiquei um pouco aliviada. mas quem estou querendo enganar? mais valeria, acho, ter sido correspondida na minha primeira paixão pós-infância, e décadas depois deplorar com outras amigas que viveram situações semelhantes a falta de miolo dos nossos príncipes juvenis.
mas o fato é que minha ideia de romance ficou só na ideia mesmo, e isso provavelmente foi uma pedra fundamental na construção da minha ideia de romance ao longo da vida: eu não era a menina para quem essas coisas aconteciam fácil, não tinha marcadores de feminilidade desejáveis na época e não era linda ou popular nesse sentido.
mas eu já escrevia bem pra cacete. ou você acha que o garoto se apaixonou brevemente por alguma outra coisa senão os meus bilhetes? eu acho que não.
DAS COISAS QUE NÃO PERDEMOS NO CAMINHO
se amália não quiser ir
essa semana eu recebi uma foto que me matou, uma foto com tanto significado que ainda estou digerindo.
quando eu tinha 16 ou 17 anos e fazia parte da oficina de teatro do colégio (na verdade, eu estava nessas desde os 13, obviamente por culpa & obra e graça da roberta), fizemos uma montagem de “macunaíma”. era um projeto multidisciplinar em artes, história e literatura. eu me apaixonei pelo livro desde a primeira vez que li e ainda sou grandemente apaixonada por ele, gosto de contar a história da boiúna luna pro dom e como a cabeça dela subiu até o céu comendo a teia geada da aranha tatamanha para se transformar na lua, respondendo “hmmm hmmmm” quando os irmãos perguntavam alguma coisa lá embaixo porque afinal já estava com a boca cheia; mal posso esperar para contar outras passagens para ele, como a do chupinzão e do tico-tiquim; enfim, esse livro eu me lembro sempre e revivo sempre que posso (apesar dessa crítica relevante do cristino wapichana que eu li mês passado).
pois um dos meus papéis na peça era a da mãe do macunaíma (eu também era a cabeça da boiúna luna, aliás). e como mãe do macunaíma eu era a primeira atriz em cena, fazendo um arremedo daquela respiração de parto (que nunca mais fiz na vida, nem mesmo nos meus partos reais) enquanto o pessoal da oficina de música fazia sonzinhos de floresta e criava-se a ambiência para o primeiro evento descrito no livro, que é o nascimento do herói. o espetáculo começava com cortina aberta e a ideia era que isso ficasse rolando enquanto os espectadores (no caso, nossos pais e mães e irmãos) entrassem e se sentassem no anfiteatro no grande dia.
depois de um tempo de respiração cada vez mais acelerada, eu dava um berro IMENSO e aí o macunaíma (meu amigo joão marcelo, no caso) nascia. a gente tinha ensaiado bastante e eu tava até que, senão segura do que eu tava fazendo, pelo menos cheia de coragem inocente. mas o problema foi que, embora a gente tivesse ensaiado essa cena dezenas de vezes, em nenhuma delas ela tinha durado os 15 ou 20 minutos que teve de durar na estreia, esperando todo mundo entrar e sentar na porra do anfiteatro. e aí, no grande dia, ÓBVIO que eu hiperventilei.
saí do palco com tontura, formigamento e paralisia nas mãos. e quem me salvou na coxia foi a tereza.
a tereza tinha o colo mais macio, o abraço mais confortável, a atenção mais doce que alguém podia ter com 16 ou 17 anos. a família dela era católica muito religiosa (não sei se ainda é), o que eu achava muito curioso, já que minha mãe não tinha feito a gente fazer nem primeira comunhão e íamos à missa uma vez por ano, quando tinha justamente um evento da escola de dia das mães. mas a família dela não parecia nada com o que eu imaginava de uma família muito religiosa, tipo carola ou repressora. eles me pareciam sobretudo muito amorosos.
e eu amava o nome da tereza, tereza amália, que ela me contava que tinha sido para distinguir do nome da mãe, que era tereza antônia, e eu não sabia qual parecia mais chique e mais distante do meu universo familiar e das minhas referências estéticas.
na coxia, a tereza olhou para mim e falou “calma”, e ela meio que queria dizer aquilo de verdade mesmo. “respira. devagar”. pegou minha mão e massageou. e eu melhorei a tempo de fazer minha entrada seguinte, poucos minutos depois, totalmente recuperada.
a casa da tereza era de frente para o portão de trás da escola e passamos muitas tardes sentadas lá, com sortes parecidas com os garotos (no caso, quase nenhuma) e sensibilidades, apesar de distintas, meio equivalentes. a tereza sofria muito pelos meninos, e eu também. essa era, acho, a nossa ideia de romance.
eu tenho as melhores memórias da tereza e daquele portão da rua banda, ainda me lembro de uma conversa sobre a nossa formatura no colégio e tenho a impressão de que ela era sobre como a gente ia lembrar do dia 30 de novembro de 1996 nos anos subsequentes.
quase todo dia 30 de novembro eu me lembro, senão da formatura, pelo menos da tereza.
e anteontem a tereza me mandou essa foto (que me fez pensar por alguns segundos “mas quando foi que eu vi a tereza enquanto estava grávida do domenico?! que estranho, essa foto parece tão antiga…” até perceber que na, verdade, na foto eu estava grávida do macunaíma).
AS PALAVRAS DOS OUTROS
— i want a dyke for president, zoe leonard. para ler em tamanho mais decente que essa foto, clique aqui.
“I want someone with bad teeth and an attitude, someone who has eaten that nasty hospital food, someone who crossdresses and has done drugs and been in therapy. I want someone who has committed civil disobedience”.
Eu acho que o defeito do Hilbert é a Fernanda. Tem uma propaganda dos dois juntos, e obviamente não tem "a esposa do Rodrigo Hilbert" ali, aquela esposa que a gente sonha ser."Meu Deus, que churrasco! Eu amo esse homem". Ele tem que ser o marido perfeito por si só, o que é um ótimo paradoxo.
Olha, eu tenho uma informação que deixa o Rodrigo Hilbert menos perfeito para mim. Certa vez assisti a um programa dele com a Fernanda Lima no GNT e ela disse que, enquanto estava recém parida, ele só queria saber de fazer churrasco. Ela toda bagunçada pelo puerpério e ele lotando a casa de gente... Bonitinho, mas sem noção.