"pede, boba, você pagou"
como essa frase foi parar no meu sonho não sei, mas por incrível que pareça no fundo ELA é a coisa mais maluca daquela história toda.
olá sras e srs,
quando eu tinha a idade do dom, 4 anos, também morava em um sobrado. e parei de subir ou descer as escadas para estar no outro pavimento sozinha por causa de um trauma causado por um filme – eu tinha tanto medo daquilo que tinha visto na tela que minha já pequena liberdade de deslocamento caiu pela metade.
por isso fico espantada quando vejo o domenico, feliz e serelepe, descendo sozinho de manhã, para mexer na cidade de lego que ele construiu na sala. ou se recusando a subir quando, já de noitinha, eu vou amamentar o milo no quarto deles.
fico contente de ter conseguido manter essa criança sem maiores traumas até agora. mas ao mesmo tempo sei que é impossível ter tanto controle assim por muito mais tempo – além do que um medinho faz bem, ensina a gente a ter coragem, ajuda a mostrar o quanto a imaginação pode ser selvagem se você não tiver controle dela.
no meu caso – não especificamente esse do medo que me tirou a mobilidade no sobrado; esse foi meio extremo e inesperado mesmo (conto melhor outro dia), mas na infância como um todo – o pessoal exagerou.
(eu ia botar a culpa nos anos 80, mas parando para pensar um minuto acho que a gente vem AVACALHANDO COM AS CRIANÇAS ininterruptamente desde que o mundo é mundo, né).
hoje, vocês provavelmente vão ouvir o “TSC TSC” que eu mesma fiz daqui ao relembrar de algumas das coisas mais inapropriadas que me foram apresentadas na infância; vão descascar as breves camadas (cada vez mais malucas) de um sonho que eu tive & vão ser apresentados a fatos absolutamente corriqueiros que me aconteceram há cinco e sete anos atrás, mas que apesar da sua natureza comezinha de alguma forma continuam ecoando até este ano da graça de nosso senhor.
o resto você já sabe:
obrigada e boa leitura!
VELHO É O MEU PASSADO
o camelo tá f*dido
eu poderia listar inúmeras situações na minha infância em que fui exposta a coisas totalmente inadequadas, mas que criança não foi, não é mesmo?, especialmente nos anos 80, em que as locadoras entregavam “faces da morte” para pirralhos menores de 1,30m e a xuxa apresentava um programa infantil vestida assim:
a minha mãe tinha um princípio que era deixar eu ver tudo, desde que ela estivesse junto. claro que a simples presença dela não me ajudou a lidar com a imagem do michael caine travestido e navalhando as pacientes em “vestida para matar”, por exemplo, filme que eu OBVIAMENTE não deveria ter assistido aos cinco ou seis anos. o foda é que não adiantava NADA ter uma adulta por perto porque eu não sabia nem COMO ENUNCIAR MEU ESPANTO diante dos temas e dos acontecimentos do filme.
(uma pequena pausa aqui para pensar se, daqui a uns 30 anos, o dom vai escrever sobre como os episódios de “hora de aventura” que assistimos juntos foram pirados demais para os 4 anos dele).
mas enfim. eu tenho uma lista de memórias de coisas inapropriadas, mas acho que poucas se comparam a ter ouvido a piada do camelo, contada por um tio, quando eu era criança.
e, assim, não é que a gente estivesse em uma festa familiar de adultos, ou em uma reunião de amigos dos meus pais, e ouvimos de bicão. ele contou exclusivamente para nós, eu e mais duas ou três primas, todas crianças.
(outra pequena pausa para lembrar que, na verdade, uma vez esse mesmo tio teve que ficar comigo e com a minha prima, filha dele, por algumas horas; não me lembro porquê, mas era uma coisa que NUNCA acontecia, os homens cuidarem sozinhos das crianças, e acho que ele também não tinha ideia do que fazer, então ele levou a gente para comer esfihas e, na mesa da esfiharia, ensinou a gente a jogar um joguinho que consiste em forrar a boca de um copo com uma guardanapo daqueles de TV, botar uma moeda em cima, acender um cigarro e IR QUEIMANDO O GUARDANAPO COM O CIGARRO tentando NÃO derrubar a moeda – isso mesmo, duas crianças pegando um cigarro e queimando um guardanapo, a fumaça toda voltando na nossa cara, à guisa de entretenimento. eu achei todo o passeio top.
enfim, uns poucos anos depois esse mesmo tio contou a piada do camelo para a gente. e a piada do camelo era sobre dez coitados que estavam no deserto – não me lembro de como eles tinham ido parar lá, deviam ter sofrido um acidente de avião, sei lá – e, para sair dali, só tinham UM camelo – tenho menos ideia ainda de como o camelo tava ali mas enfim piada é assim mesmo né, até aí tudo bem.
o fato é que tinha dez desgraçados e só um camelo para sair do deserto, e todo mundo subiu no camelo do jeito que deu, e lá se foi o pobre do camelo em direção à salvação.
uns poucos passos depois, o cara que ficou mais na frente do camelo olhou para a cara do bicho e constatou: “vixi. esse camelo tá f*dido!” e avisou o cara de trás.
o cara de trás ficou muito preocupado e passou a notícia para o seu vizinho: “o camelo tá f*dido!”
e o terceiro, também sobressaltado, avisou o quarto: “o camelo tá f*dido!”, e assim sucessivamente, até que o nono sobrevivente virou para o último sujeito encarapitado no camelo e avisou que o camelo estava f*dido, ao que o décimo respondeu “eu sei, pô, mas é que se eu tirar o pau do c* dele eu caio”.
eu tinha uns dez anos.
(mas nunca esqueci a piada, e tirando a completa inadequação do conteúdo para um público com menos de 18 e a possível ofensa à sensibilidade das pessoas no geral, eu tenho que confessar que acho ela muito boa, uma alegoria para uma porção de coisas).
dröma – o retorno
no meio do carnaval sonhei que uma amiga tinha colaborado com um crowdfunding para ajudar o temer, mas estava com vergonha de pedir a contrapartida, que eram… NUDES DO TEMER.
e eu falava “pede, boba, você pagou”.
FIM
(eu gosto de sonho assim, em que as camadas do absurdo vão se sobrepondo, a começar pela existência de uma vaquinha para ajudar o temer, passando por minha amiga colaborar com uma vaquinha dessas e chegando ao que parece ser o mais maluco, a existência dessas fotos nus do ex-presidente como contrapartida de uma vaquinha, mas não é; o grande lance desse sonho é ele ter conseguido ficar mais absurdo ao NORMALIZAR O ABSURDO – que sou eu calmamente tentando convencê-la a aceitar os nudes).
ps: escrevi isso ontem, antes mesmo do temer voltar ao imaginário popular atual com essa história aí de separa-não separa da marcela (será que o crowdfunding vem?!?!).
FRAGMENTOS
2017
no dia 3 de março de 2017 o capa me mandou essa mensagem e eu ainda acho que nunca ouvi uma música mais triste que happy.
(talvez só “shiny happy people”, porque alguém que precisa ficar falando sem parar que tá feliz não é possível que esteja né).
2015
no dia 3 de março de 2015 eu fui comprar alguma besteira na kalunga que ficava no térreo do prédio do trabalho e testemunhei esse diálogo que, de tão bem-feito, parece até fic. mas rolou. me lembro muito bem da poc que na minha cabeça se tornou um emblema da fé mais fervorosa que um fã pode ter, misturada com a mais completa falta de noção sobre um assunto.
"pede, boba, você pagou"
Oi, tenho um nenê de quase 3 anos e sei a preocupação que é não deixar nossas frustrações passarem pra ele MAS "ele tb tem q se frustrar um pouco pra não crescer cuzão né"... essa loucura q é maternar na corda bamba da vida. Eu passei mal nas piadas, mas a experiência das esfihas e cigarro foi o ápice desta newsletter pra mim! Obrigada pelo conteúdo! (Vim da newsletter do @davirocha)
Como é legal ler uma piada que não conhecia!!! Achei muito engraçada, mas ainda não vou contar pro meu sobrinho de 09 anos!!!!😃 Ficarei esperando você contar o motivo do medo de você não subir as escadas! 👍