tive covid e não recomendo
talvez – TALVEZ – a gente esteja superestimando o quanto é possível controlar ficar doente ou não
vocês vejam que eu vou me esforçar para ser no mínimo semanal, como meu irmão exigiu.
desta vez fui quase: oito dias. mas para quem está com uma perna depilada e outra não há NOVE dias, eu acho que tá muito é bom.
hoje temos o rolê da covid, a saga da semi-depilação como amostra exemplar dos pilares da maternidade, as coisas que eu gosto e o que elas significam (nada) e uma citação do david foster wallace que talvez – TALVEZ – possa te poupar umas sessões de terapia.
assina aê, prometo que volto.
AINDA SOU EU
tive covid. não recomendo
dois meses e meio atrás eu tive covid. digo isso agora porque ontem lá estou eu em uma farmácia para fazer um antígeno nasal, pensando “pqp era só o que me faltava pegar de novo essa merda depois de dois meses e meio e duas doses de vacina”.
pegar covid é obviamente uma merda porque, além do que essa doença fez com o mundo como o conhecíamos da porta para fora, da porta para dentro, mesmo com sintomas leves como foi o meu caso, você passa as 24 horas de cada um dos 14 dias do ciclo da doença sem saber se você vai virar estatística fatal.
então a sensação física é de uma gripe mais ou menos forte, enquanto a sensação psicológica é a de abrir um exame todos os dias para saber se você está ou não com uma doença terminal.
outra coisa que eu percebi ao pegar covid é que existe uma certa vergonha em contar. eu fiquei quieta primeiro porque tive muito medo de morrer e não sabia se isso ia ou não acontecer. segundo porque dá uma sensação de que as pessoas vão olhar e pensar “ixi, deve ter ido em balada” ou “certeza que não usa a máscara direito”. dali para acharem que você é negacionista ou bolsonarista seria um pulo.
ok, talvez eu tenha exagerado um pouco. mas, de fato, no fundo eu estava achando que as pessoas iam pensar que foi CULPA MINHA pegar (a doença mais contagiosa dos últimos 100 anos).
(e vocês sabem porque eu acho que os outros iam pensar isso, né? ISSO MESMO: porque EU MESMA já me peguei julgando! TCHANAM!).
quando eu contei no privado para alguns amigos, não foram um nem dois que me falaram “ah, é foda mesmo, quando eu tive também foi assim ou assado”, e eu “nossa, você teve também?! não sabia!” e eles “ah, nem comentei nada na época”. talvez muito mais gente que conhecemos tenha pego e não comentou. é a subnotificação social.
o fato é que eu e dom pegamos, enquanto ricardo e minha mãe passaram incólumes. o milo jamais saberemos, que não tem necessidade nem condição testar um bebezinho tão pequeno (e fofo).
o dom tinha ido dois dias para a escola quando começou a ter os sintomas, que geralmente se manifestam em média cinco dias depois do contágio. isso – e o fato de não ter aparecido mais nenhum exame positivo na escola – me leva a achar que NÃO foi lá, mas essa doença é fdp demais para termos qualquer certeza. no fim, não tenho a mais puta ideia de onde pegamos. e saímos todos ilesos (até agora, porque como toda doença fdp ninguém tem certeza também dos efeitos dessa merda a longo prazo).
enfim. peguei covid, e não recomendo, viu.
(ainda bem que segui meu próprio conselho e não tive covid de novo: o antígeno de ontem deu negativo).
MATERNIDADE E OUTRAS PIRAS
pelo menos
hoje estou completando 09 (nove) dias com uma perna depilada e a outra não.
antes de ser mãe, eu olhava incrédula (e de cima do meu pedestal de crenças inabaláveis sobre uma experiência que eu nunca tinha vivido) para as mulheres que falavam que não conseguiam nem lavar a cabeça nos primeiros meses do bebê.
mas a maternidade, meus queridos, ela é uma experiência baseada em dois pilares: a cusparada caindo de volta na sua cara e a síndrome de estocolmo (aquela em que você se apaixona pelo sequestrador – no caso, o sequestrador de todo seu tempo, energia, corpo, atenção etc).
e esta cusparada do autocuidado me atingiu gostoso. eu estou, caralho, com uma perna depilada e outra, como disse o dom, “olha! cheia de pelinhos. deixa eu arrancar um aqui” há QUASE DEZ DIAS.
e não é uma questão só de tempo, mas também de prioridades. quando meu dia acaba, lá pelas 9h30 da noite (isso quando eu não acabo desmaiando na cama junto com a criança que me coube fazer dormir), sinceramente a ÚLTIMA coisa que eu quero fazer é pegar a cera. eu desço para a sala disposta a ligar a televisão em alguma coisa qualquer, talvez comer um pouco de sorvete e meia hora depois me preparar para ir para a cama, de onde vou ter que sair depois de 2 ou 3 horas (4, com muita sorte) para amamentar um dos sequestradores. e depois, novamente, passadas mais 2 ou 3 horas. e assim sucessivamente, até o amanhecer.
e embora durante a madrugada eu levante e caminhe até ele xingando demais essa sina, basta pegar o bichinho no colo e sentir aquele corpinho se aninhando que AUTOMATICAMENTE eu penso “nossa, que sortuda eu sou. nossa. um bebê”. (estocolmo).
bom, provavelmente o desvio foi eu ter depilado SEQUER a primeira perna, na verdade. não sei como consegui fazer isso, mas me parece que é algo que eu não devia ter feito.
agora, resta saber o que acontece antes: outra brecha de tempo na minha vida de mãe e redatora ou o crescimento dos pelos da perna depilada. de um jeito ou de outro, tudo vai se uniformizar de novo. é só esperar.
SÓ OUTRAS PIRAS MESMO
(des)gostos
tem as coisas que eu gosto e as coisas que eu gostaria de gostar. tem as coisas que eu gosto desde pequena e as coisas que eu não gostava antes. tem as coisas que eu nunca gostei e as que eu nunca vou admitir que gosto. tem as coisas que eu ainda não percebi que gosto e que eu ainda vou gostar.
e tem as coisas que eu penso que gosto porque sou muito especial e única, e depois percebo que meio que todo mundo do mesmo recorte social-demográfico também gosta (e também pensa a mesma coisa). a gente gosta do que a gente vê, e as pessoas com experiências de vida semelhantes – definidas por um período de nascimento, uma geografia de onde cresceram, a natureza do lugar que habitam – tendem a se deparar com as mesmas coisas no percurso. mesmo com a internet. mesmo com as redes sociais (não foi tão fácil pro algoritmo meter a gente dentro de bolhas?).
isso não é nenhum demérito. mas também não é uma marca exclusiva de personalidade, né. aprender a reconhecer isso eu achei uma baita libertação.
AS PALAVRAS DOS OUTROS
vamos parar um minuto para ler o david foster wallace mandando ~AQUELA~ (aquela que podia te economizar por baixo uns seis meses de terapia se você tivesse lido antes. ou talvez ADICIONAR uns seis meses de terapia. depende aí de você).
“este som não é apenas aquele da porção infantil de alguém exultando ao finalmente receber absolutamente todos os mimos que sempre quis, mas também o do alívio que todas as outras porções de uma pessoa sentem quando a porção infantil enfim cala a boca”.
- “ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo”, in “uma coisa supostamente divertida que eu nunca mais vou fazer”. david foster wallace.