uma frase de milênios
"esse quam videre" e as insistentes tentativas de transformá-la em uma frase de milhões (ou de centavos)
olá, senhores, senhoras.
santa claus is coming to town. mas eu se fosse ele não sei se vinha não.
*
“hora de aventura” tem uma meia dúzia de episódios, de títulos variados mas sempre em torno de “five graybles”, em que uma criatura alienígena, muito avançada em tecnologia e meio afetada, propõe um desafio: o espectador deve encontrar o tema comum às cinco historinhas que são mostradas na sequência.
essa edição, sem querer, saiu meio assim.
*
não sei como serão as próximas, mas caso interesse…
21 de dezembro. quinta-feira. todo mundo amanheceu mal, ninguém consegue trabalhar. dormi pensando na gisella perl, sonhei que um amigo com quem perdi contato tinha escrito “desespero” à corte na própria testa, muito tempo atrás, e deixado crescer uma franja para encobrir a cicatriz da palavra. o curioso é que ele sempre foi careca.
viver com crianças é uma experiência sensorial.
o pezinho descalço apoiado em cima do seu. bochecha. beijo. cotoveladas. migalhas no chão. a mãozinha pegajosa e tingida de vermelho revelando uma bala sem papel que ela guardou para você. cheiro de cabeça. cheiro de baba. cheiro de sabonete infantil. o cheiro delas. coisas caindo no chão. o sorriso luminoso. o caldinho cinza que escorre na pia quando você esfrega as mãos delas antes do jantar. segredos contados em um cochicho muito alto. gritos completamente fora de hora. acordar na terça-feira jurando que é domingo. as músicas que elas cantam. cabelos fininhos fazendo cócegas no seu nariz.
eu terminei minha quarta-feira chorando abraçada ao seu francisco, o porteiro da emei que o dom frequentou nos últimos dois anos.
foi o último dia de aulas na escola e eu tava tentando não chorar faz duas semanas, desde a reunião de encerramento em que tocou “despedida” do roberto, a MESMA MÚSICA que tocou na minha formatura da emei.
e aí minha terapeuta falou CHORA UÉ e eu levo o que a minha terapeuta diz muito a sério, e foi assim que me pendurei no pescoço do seu francisco desmanchando em lágrimas, a última pessoa que eu veria antes de ganhar a calçada de mãos dadas com o dom pela última vez; o seu francisco é um dos caras mais polidos e gentis que eu já conheci, e achei bonito que ele me consolou que nem se consola uma criança, “não chora, não chora”, dito naquele tom acolhedor e tranquilo, e eu disse para ele que nós fomos muito felizes ali nestes dois anos, agradeci e me despedi.
depois, já no carro, me dei conta de que o seu francisco foi também a PRIMEIRA pessoa que me recebeu na emei. foi ele quem mostrou a escola para nós no dia em que fui fazer a matrícula do dom.
os fins são duros, mesmo quando você quer que eles cheguem.
escrevo para a fal perguntando como se pronuncia esse quam videre, ela me surpreende dizendo que é “ésse quam vidére”.
de alguma forma vamos parar em mega-sena. eu digo que jogo na mega da virada todo ano, explico que é um bolão tradicional dos mais chegados e de repente por alguma razão me sinto tão ingênua por fazer isso que preciso justificar porque coloco dinheiro, todo fim de ano, em uma probabilidade tão remota.
aí dou pra fal a explicação que dou pra mim mesma: alguém tem que ganhar. porque não pode ser eu, não é mesmo?
*
esse quam videre significa “ser em vez de parecer”. fal me explica, com graça e paciência, a história dos registros da frase (ela pensa que eu sei, mas claro que não sei nada disso). e menciona que um monte de coach usa isso de baciada por aí.
a escangalhação de uma ideia ao longo dos milênios, né. fora a audácia dessas fudida, que vivem de PARECER em vez de SER, e subverteram por completo a verdade da frase.
*
fal me explica um monte sobre a frase, e depois termina o áudio dizendo um absurdo tremendo com uma sinceridade deslavada: “não adianta perguntar nada para mim que eu não sei NADA direito”, o que me faz pensar “bom, então quem poderia me mandar meia dúzia de mensagens + um áudio de 3 minutos sobre esse tema no meio de uma sexta-feira?”, mas não falo nada para ela.
eu fiquei muito impactada quando topei com a frase. e desde então venho pensando sobre quão difícil, quão profundo é esse exercício, o ser em vez de parecer. leva uma vida toda, né, para construir.
e meia dúzia de coach para sucatear.
Rindo litros com a sua última frase. Em tempo, eu ainda não conhecia essa expressão "esse quam videre", clarissa também é cultura :P