o estandarte do sanatório geral
está passando na sua caixa de entrada uma newsletter não-tão popular (mas ainda assim insuspeitamente reconhecida em plena reunião de trabalho)
srs, sras
eu tomo um susto toda vez que alguém diz que lê essa newsletter. sejam pessoas conhecidas, como a carocha, que um tempo atrás tranquilizou minhas aflições sobre a periodicidade incerta desta empreitada, quanto j., que eu tinha acabado de conhecer em uma videochamada de trabalho e meteu um “ela não falou, mas tem uma newsletter; assinem, é ótima” quando terminei de apresentar minhas credenciais profissionais.
desta última vez eu fiquei tão impactada que prometi para j. que ia escrever uma edição.
então, como diriam os argentinos: já está.
se você quiser seguir o conselho da j., mete seu e-mail aí na caixinha abaixo.
quando você menos esperar, PLÁ!, aparece uma edição da “tudo acontece muito” na sua caixa de entrada. (se demorar, não se espante: é porque na verdade não está acontecendo quase nada).
hoje eu acordei drasticamente atrasada…
e o que eu sempre faço quando acordo drasticamente atrasada é simplesmente fechar os olhos de novo e tentar acordar sem o susto. já perdi a hora, não tem porque perder a paz também.
muito menos em um dia em que tudo que você tem para fazer de manhã é levar as crianças na escola.
claro que isso não funciona para a manhã do enem, de um concurso público ou de uma apresentação que você tem que fazer pro seu chefe.
mas na maioria dos dias isso funciona, sim. então não vamos dar importância demais a um evento irrelevante.
(para isso, já existe o twitter).
*
acordei drasticamente atrasada de sonhos intranquilos (mas pelo menos não me encontrei metamorfoseada em um inseto monstruoso).
sonhei que estava em uma festa e tinha deixado o carro estacionado na rua; quando eu voltava, uma enchente tinha coberto casas e arrastado vários carros; eu não via o meu, e não sabia se ele tinha sido roubado ou levado pela enchente; de qualquer forma, para ter certeza do que tinha acontecido, eu precisava achar o documento do carro (?!), coisa que eu então ia procurar… no porta-luvas do meu próprio carro, que tinha desaparecido (?!?!). eu ficava lá um tempão, procurando um documento no porta-luvas de um carro já desaparecido e aflita por não encontrar.
antes, na festa, eu via a priscila e passava um bom tempo com ela. ela estava acompanhada de um cara que não me era apresentado, mas parecia namorado dela e eles se davam muito bem. ele fazia bem para ela. e ela tava feliz e amorosa, meio que do jeito que eu lembro dela mesmo, no pouco tempo que a gente conviveu.
claro que isso não representa em nenhum grau um recado do além, mas apenas o que eu sigo desejando para ela, tenha lógica esse desejo ou não. acho que o que eu queria era que ela estivesse sempre bem-acompanhada e feliz.
vissimalia/ putaquimaliu
o milo apareceu falando “puta que pariu” – na verdade, ele fala “putaquimaliu”.
explicamos para ele que isso só adulto pode falar, e que quando quiser expressar espanto ele pode usar, por exemplo, “vixe maria!” – que naturalmente ele pronuncia “vissimalia”.
até aí, beleza. ele começou a falar vissimalia adoidado, “putaquepariu” é só para os adultos e ficou tudo ok.
daí, certa manhã, acordo com o corpinho dele em cima do meu. abro os olhos e ele diz “vai, pode falar sua palavra”.
eu: “quê?”
ele: “pode falar putaquimaliu”.
eu: “ah. não, eu não posso falar isso perto de crianças”.
ele parou um segundo. escorregou de cima de mim, deu dois passinhos de ré até encostar as costas no guarda-roupas, a meio metro da minha cama:
“pronto! agora você pode”.
só ficando velha mesmo
eu ando tão cansada, tão não querendo saber do lirismo que não é libertação.
e esse cansaço dá um bode inclusive da gente mesma, um bode de estar tão cansada.
eu tô cansada das camisetas com dizeres feministas, dos comediantes fazendo as mesmas esquetes, das dicas de maternidade e como lidar com as birras do seu filho, eu tô cansada de notícias reais que parecem absurdas e de notícias falsas que de tão absurdas como pode ser que alguém acredita?; tô cansada de linhas borradas, da falta de deslumbramento, do imediatismo do zap, dos termos antes importantes que foram esvaziados até virarem uma caricatura de si mesmos, de gente vendendo coisa, vendendo curso, vendendo superioridade, vendendo solução, vendendo feminismo, vendendo criança; eu tô cansada dos discursos em vez das histórias (como bem disse a denise fraga), das mesmas histórias, dos discursos (de superação) travestidos de histórias, eu tô cansada desse oceano de fragmentos em que a gente ficou imerso, uma barulheira, um ruído enorme e eu não estou conseguindo ouvir nada.
mas pode ser que eu esteja só ficando velha mesmo.
*
eu sinto muita saudade de saber o que eu estou fazendo. no momento atual da minha vida, eu não tenho sequer 1/2 (meia) unidade de certeza, salvo o fato de estar ficando velha – e mesmo isso eu não sei, não.
quer dizer, a passagem do tempo é um fato concreto, inexorável. mas o que eu vou fazer com isso? como o tempo tá passando pra mim, pros meus amigos da mesma idade, pra minha geração? círculos concêntricos de problemas que se expandem, que nem quando você joga uma pedrinha sobre águas tranquilas.
outro dia eu sonhei que sabia o que eu estava fazendo, e foi maravilhoso. não me lembro o que era, afinal. mas não importa. me lembro da sensação.
ninguém perguntou…
mas estou lendo, assistindo e escutando umas coisas legais, por isso vou listar aqui e quem quiser vir na minha que venha por sua conta e risco. já aviso que não tem absolutamente NADA, nadinha de novo aqui:
séries: “o faz nada”, que me levou a “o museu”, que me levou a “meu querido zelador”. todas no star+ (em breve no disney+, portanto). uma tríade que atesta a superioridade argentina na produção audiovisual sul-americana, tese polêmica defendida desde 2001 pelo meu chefe fernando trevas e com a qual sou obrigada a concordar.
livro: “morte e vida de grandes cidades”, jane jacobs, martins fontes, 2015. eu ia falar um pouco dele, mas a resenha da amazon tá muito melhor, então copio aqui: “Escrito como uma crítica direta e otimista à miopia e arrogância intelectual que caracterizaram boa parte do planejamento urbano moderno, 'Morte e vida de grandes cidades' tem sido, desde sua primeira edição em 1961, uma referência fundamental no campo dos estudos urbanos. (…) Compreensiva, humana e muitas vezes indignada, a monumental obra de Jane Jacobs segue contribuindo de maneira decisiva para a reflexão contemporânea sobre a cidade”.
música: the fade out line, phoebe killdeer & the short straws. como é que pode uma música de 2011 captar exatamente o espírito do meu 2024?
e para terminar, uma fotinho do aniversariante da semana:
Depois de ler essa newsletter deu vontade de ser sua amiga...
Amiga, seu sonho do carro alagado depois da festa me lembrou do seu carro roubado (arrombado?) depois do Radiohead em 2009... o cansaço dos anos 2020 está trazendo nostalgia de perrengues dos anos 2000?