quatro casamentos e nenhum funeral
eu tive 4 casamentos, 0 vestidos de noiva e 0 pesadelos de caras ajoelhados na minha frente abrindo uma caixinha em oferenda.
meus kiridos e minhas kiridas,
se eu fosse presidenta ia começar os pronunciamentos assim. pena que no discurso não dá pra ver que é com ká-i no começo.
eu gosto tanto de fazer essa newsletter que até quando eu penso que não vou ter como fazer essa newsletter eu acabo fazendo essa newsletter, e nem vejo o tempo passar enquanto escrevo.
agora, o que os outros acham dela é problema dos outros – como vocês vão ver na seção as palavras – olha só! – dos outros aí embaixo.
mas até chegar lá vocês vão ter que passar pelo longo relato dos meus quatro casamentos, pelo desprezo do domenico e do milo por imitações plásticas de objetos da vida real e pela história de um cara que, como todos nós, gostava de achar que ele gostava de alguma coisa – quando na verdade ele gostaria de gostar dessa coisa (eu explicando sou péssima, corre lá ler que eu juro que faz sentido).
bom, se essa newsletter ainda faz algum sentido para você depois de tudo isso, compartilha aí. e se quiser assinar, taca pau aqui embaixo.
AINDA SOU EU
quatro casamentos (e nenhum funeral)
eu me casei com dois homens. um de cada vez, naturalmente. mas prefiro enunciar assim do que dizer que me casei duas vezes, o que seria tecnicamente uma mentira, porque eu me casei quatro vezes.
é que três delas foram com a mesma pessoa, sem termos jamais terminado, por motivos meio que práticos. a primeira na união estável, assinada porque eu queria mudar de emprego e precisava entrar no convênio da clt dele; a segunda em las vegas, com um celebrante que não acreditava no aquecimento global (isso sim é irônico, alanis, já que eu estava casando com um ativista ambiental) e o fotógrafo da capela assinando como testemunha, porque éramos só nós dois lá; e a terceira no civil, aqui no brasil mesmo, nossas mães como testemunhas revezando o domenico no colo enquanto a outra assinava o papel, porque descobrimos que demoramos demais para oficializar nosso casamento gringo e era mais fácil casarmos de novo aqui do que regularizarmos a papelada. parece que de fato o que acontece em vegas FICA em vegas.
em nenhuma dessas quatro vezes eu usei o que se costuma chamar de vestido de noiva (mas lá no meio do deserto usei branco, curto e com sapatilha sem salto, e fomos com a mesma roupa para o cassino onde comemos um bolo e tomamos espresso, e aquele virou o nosso bolo de casamento).
quando mandei uma mensagem no grupo dos meus amigos do ig dizendo que tinha acabado de me casar em vegas, eu amei que a nordi me perguntou alarmada “CLARISSA VC SABE QUE ESSE CASAMENTO AÍ VALE MESMO NÉ?”. eu adoro a ideia que a nordi tem de mim, queria ser tão doida quanto ela pensa que eu sou – se bem que, para o temperamento extremamente organizado e amante da constância dela, talvez eu seja mesmo.
a pior coisa coisa que eu fiz em todos esses casamentos foi ter mudado de nome no primeiro de todos. o trabalho que dá regularizar todos os documentos e os problemas surpresa que aparecem devido a “inconsistências no nome, senhora”, eu devia ter aprendido com a minha mãe – cuja mudança de nome às vezes ainda dá problema nos MEUS documentos, olha que desgraça encardida que é mudar de nome, não faça isso, não compensa nunca, tenho cartões de crédito que ainda vêm com o sobrenome do meu ex-marido (acho que a nordi não vai gostar disso).
a melhor coisa que eu fiz em todos esses casamentos foi o fato de conseguir nunca ter sido pedida em casamento, uma situação da qual eu tenho pavor.
da primeira vez, meu futuro ex-marido e eu decidimos nos casar porque namorávamos há uns seis ou sete anos e o douglas falou “pô, tá na hora de a gente criar vergonha né” e parecia um argumento sensato então concordei. esse é o tipo de coisa que acontece em relacionamentos hétero; depois de um tempo, se você se distrai, quando vê tá casado.
da segunda vez, primeira com meu atual marido, eu casei mais ou menos, foi só assinar uma união estável e por motivos de plano de saúde, mas eu fiquei feliz; minha amiga flávia de testemunha e fotógrafa, ricardo e eu no vampré assinando papeizinhos depois de uns sete anos juntos já, muito felizes, disfarçando com uma necessidade prática o fato de sermos completamente apaixonados um pelo outro.
em las vegas eu me casei porque a gente queria ir de carro de los angeles até o grand canyon e de volta, era um trajeto longo demais e precisávamos parar no meio. olhamos o mapa procurando algo pra fazer entre um ponto e outro, achamos las vegas e eu propus “vamo casar então?”. e foi.
e, finalmente, no civil a gente casou, já com o dom entre nós, porque o ricardo podia tirar um passaporte gringo pro domenico se tivéssemos esse papel assinado. eu nem lembro com que roupa eu estava e passei um tempão colocando “divorciada” nos formulários que eu preenchia, por força do hábito, mas tirei uma foto da senha do atendimento do cartório e essa foto é tudo que eu tenho desse dia.
casamento em português significa duas coisas: o dia/festa/evento do seu casamento e o resto de uma vida (enquanto durar) a dois. confundir esses dois significados é um perigo, faz você botar energia demais em um troço que é pra durar 4 ou 6 horas e pouca atenção em uma coisa que é muito, muito maior.
MATERNIDADE E OUTRAS PIRAS
simulacros
quando o dom era bebê, adorava chaves – como quase todos os bebês.
aí a avó dele comprou um brinquedinho plástico, todo colorido, que simulava não só as chaves como também um daqueles controles de carro.
e o dom, que era FASCINADO por molhos de chave, deu um total de 30 segundos de atenção para o brinquedo.
ele deve ter pensando ‘QUE TIPO DE IDIOTA VCS ACHAM QUE EU SOU PRA ME DAR *ISSO* EM VEZ DE CHAVES DE VERDADE?!’”
com o milo fui mais esperta. o pequeno sacripanta gosta de pegar o controle remoto – também como quase todos os bebês. comprei um controle de borracha MUITO PARECIDO com um real. sério:
ele até que brincava um pouco, mas gostava mesmo era do controle da nossa TV. aí achei um controle velho, perdido nas coisas da mudança, tirei a pilha e determinei que ia ser o controle do milo. ele quer pegar o controle (real) dele? CLARO QUE NÃO, ele quer o nosso.
ele só pega o dele se eu FINJO estar mudando os canais da nossa TV com o objeto. aí sim.
tá loko, criança é um baita radar de simulacros, viu.
AS COISAS QUE NÃO PERDEMOS PELO CAMINHO
tem aquilo que a gente gosta e tem aquilo que a gente gostaria de gostar
isso me lembrou um conto chinês que eu li há muito tempo, e que por sorte (e porque a roberta ficou tão apaixonada quanto recontei a história para ela que pediu para eu conseguir, com o dono do livro, uma reprodução do conto oficial, e achei essa reprodução no meu e-mail) está aqui:
(pensando bem, isso é meio que tipo a confusão que muita gente faz com os significados de casamento, a festa e a vida real).
AS PALAVRAS DOS OUTROS
— renato pompeu, “memórias da loucura”, via desculpe a poeira.
Cacete, Clarissa. Essa história do dragão e casamento vai me desgraçar a cabeça por semanas.
É tão bom ler você ❤️❤️