hoje eu fui a um compromisso de trabalho presencial pela primeira vez desde o começo da pandemia, e, entre outros estranhamentos, como o de passar maquiagem e batom, como se fosse uma mulher sapiens do ano de 2019, notei ao abrir meu guarda-roupa que estou a isso aqui 🤏 de realmente não ter nem roupa para a ocasião, para nenhuma ocasião, aliás, já que passei os últimos 20 meses de moletom, camisetas véias e blusas de amamentação feias.
mas dei um truque com uma legging preta, uma camiseta jamais usada (pois comprada quando o milo ainda tava na barriga) e um blazer desempoeirado, passei spray pra armar um topete, peguei um sapato – meu deus, um sapato de VERDADE – e no fim nada disso importou tanto porque foi o melhor dia de muitos.
como é bom ver pessoas.
hoje, a primeira vez em que me senti velha; o domenico aprendendo a rimar; uma bravata enorme sobre uma coisa absolutamente desimportante e as memórias do chico.
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AINDA SOU EU
velho é o meu passado
quando eu trabalhava no buzzfeed vi os posts nostálgicos dos anos 80/90, que antes davam muita audiência, morrendo (não tão) lentamente, e os posts de nostalgia dos anos 90/2000 passando a dominar os charts.
foi a primeira vez que eu me senti velha.
engraçado que eu não me senti velha quando trabalhei, na redação anterior, com pessoas que não sabiam o que era a challenger ou que tinham nascido quando eu estava no último ano do ensino médio – que aliás ~na minha época~ chamava colegial. eu tinha direito à minha nostalgia, era moda lembrar da challenger, do genius, do “xou da xuxa”, da blitz, de “roque santeiro”, do cigarrinho de chocolate pan (aparentemente uma nostalgia contínua desde os anos 60) e de quando o ensino médio chamava colegial.
para mim, nostalgia CAÍDA mesmo era a da minha mãe e das minhas tias, que ficavam lembrando de novelas transmitidas em preto e branco e com nomes como O CAFONA ou BETO ROCKEFELLER, coisas que provavelmente tinham acontecido há quase tanto tempo quanto a chegada do homem à lua, quando o Brasil era tudo mato e um ou outro armário de madeira maciça com naftalina dentro, exatamente como os da casa da minha avó.
a minha nostalgia, não. a minha nostalgia era moderna.
até que não era mais.
eu nunca tinha sido velha antes, então não sabia como era. senti que minha geração estava sendo empurrada pelos famigerados millenials, que lembravam com carinho de coisas para as quais eu, já na faculdade, não tinha dado a menor atenção. tipo tv globinho, sandy & junior e harry potter.
e minha geração reagiu basicamente como todas as outras antes dela que tiveram seus holofotes roubados: ACHINCALHANDO os millenials, chamando todos de chatos, feios, bobos e egoístas – a atlantic falou disso brilhantemente neste artigo aqui, intitulado “every every every generation has been the me me me generation” publicado logo que a time deu essa capa mais boomer impossível:
ser suplantada geracionalmente pelos millenials doeu, mas pessoalmente eu decidi lidar com isso da forma mais adulta possível, que era NÃO reclamando dos novos (e também evitando de comentar coisas como “não se fazem mais bandas como antigamente” nos vídeos do dr. silvana e cia).
outra coisa que ajudou foi valorizar o que você ganha quando fica mais velha: experiência, sabedoria e a certeza de que VAI TER VOLTA, o que me deu muita tranquilidade para me recostar e rir fininho quando os millenials começaram a brigar com os gen z. às vezes é muito bom não ter ABSOLUTAMENTE nada a ver com a treta da vez, e ali foi uma delas.
ps: percebi horrorizada que quando os anos 80 começaram, o homem tinha chegado à lua fazia… 11 anos. hoje, passamos quase o dobro desse tempo desde aquele fatídico réveillon em que todo mundo teve medo do bug do milênio – e que eu na praia, com meu namorado de então e meus amigos, bebaça e já com idade para isso (e é por isso que falar de “roque santeiro” hoje soa EXATAMENTE como minha mãe e minhas tias falando de “o cafona”).
MATERNIDADE E OUTRAS PIRAS
rimas de começo, rimas de fim
o domenico faz umas semanas virou para mim animadíssimo: “sabe o que eu descobri? que ‘zumbi’ rima com ‘zebra’!”
fiz uma cara de “você conta ou eu conto?” PARA MIM MESMA. e aí, naturalmente, tive que contar. expliquei: “filho, não rima não. rimar é quando o fim da palavra se parece. por exemplo: ‘melão’ e ‘balão’. e ‘pão’. e ‘bobão’”.
ele não falou nada, não pareceu desapontado nem esclarecido. só observou (uma habilidade muito impressionante nas crianças).
depois de uns dias ele veio: “‘pão’ rima com ‘cabeção’!”
eu: “isso! você entendeu como é!”
e aí ele ficou obcecado por rimas, e começou a experimentar várias coisas, inclusive “‘crocodilo’ rima com ‘crocodilo’”, ao que eu expliquei que, pô, aí não vale, porque é a mesma palavra.
hoje estávamos conversando na cama, na hora de dormir, quando ele me disse que tem duas meninas na classe dele que brincam e brigam, e na sequência ele mesmo logo completou: “olha! ‘brincam’ e ‘brigam’ rimam no começo” (que é como ele decidiu chamar quando as palavras começam iguais).
e eu respondi: “é mesmo! e rimam no fim também: ‘brinCAM’ e ‘briGAM’”.
e ele: “sim, mas para ser perfeito tinha que ser ‘brincam’ e ‘bringam’”.
quero ver como ele vai escrever um poema, o fdp, com esse nível de exigência.
(mas errado não tá, né).
PEQUENOS PROBLEMAS, GRANDES BRAVATAS
quem foi o fdp?
eu sou terminantemente contra poucas coisas. uma delas é chocolate com menta.
chocolate com menta é uma ótima maneira de estragar duas coisas que, separadas, são ótimas.
eu não consigo entender alguém gostar de chocolate com menta. eu não consigo entender quem teve a ideia de jerico de “““combinar””” os dois.
como que alguém pensa “pô, sabe o que eu gostaria de sentir quando como chocolate? O SABOR DE PASTA DE DENTES – taí, vou fazer um chocolate com menta”.
eu não conheço ninguém que goste de chocolate com menta. chocolate com menta é tão inviável que nem sequer vende na padaria. tem que ser brinde, porque NINGUÉM compra essa merda.
e deus sabe que existem poucas decepções piores que abrir aquela pastilhinha de chocolate que deixaram no hotel ou no pires de cafezinho e descobrir que é um chocolate com menta.
pior que isso só sorvete de passas ao rum, que é um sorvete de uma fruta PODRE combinada a uma pinga RUIM.
mas isso fica para outra edição.
AS PALAVRAS DOS OUTROS
do documentário chico: artista brasileiro, na netflix.
Poxa sorvete com passas ao rum era a forma mais lícita e fácil de poder "tomar" álcool enquanto não tínhamos idade pra isso 😃