buenas e me espalho,
ontem eu comecei a arrumar meu armário e recuperar dos pacotes enfiados no maleiro as muitas roupas que ficaram sem uso enquanto eu amamentava (só deixei no guarda-roupa as partes de cima que permitiam ejetar o peito com facilidade e em poucos segundos; camisas de botão, camisetas de peitilho, golas canoa bem largas; casacos de zíper ou abertos na frente; passando a régua, eram por aí umas seis brusinhas que eu NÃO AGUENTAVA MAIS USAR).
e aconteceu uma coisa muito doida: um flashback fortíssimo como se eu estivesse vestindo não as minhas roupas de outrora, mas minhas próprias memórias. lembranças de lugares, pessoas e fotos desengatilhadas pelo corte e o tecido. tipo um encontro comigo mesma de cinco anos atrás (é que eu engatei amamentação do dom/pandemia/amamentação do milo, três grandes períodos de maior ou menor distanciamento social).
me lembrei de como eu amo vestidos, de como eu amo certos vestidos meus. me lembrei de mim mesma antes.
foi muito loko.
hoje temos o passado de 1995, um presente de 2021, um breve relato sobre as benesses do vazio mental, uma não-tão-breve reclamação impressionantemente inútil (não sei como eu fiquei tão chata?), uma foto do baú e, como já de costume, o brilho de flávia pegorin (mesmo em férias essa mulher escreveu, vocês cliquem aí no botão e valorizem viu?).
obrigada por insistirem.
VELHO É O MEU PASSADO
1995
teve uma época da minha vida em que eu acordava às 6h15, ouvia um programa de música dos anos 60 na rádio enquanto passava delineador no olho e sonhava acordada com o dia em que ia ficar com o cara pelo qual eu era platônica, perdidamente apaixonada do alto dos meus 17 (virgens) anos. era mais ou menos o meio dos anos 90 e olhando para trás eu não sei explicar direito porque eu era tão triste e tão feliz.
na verdade esses anos sempre me pareceram mais ou menos luminosos como o sol que invadia a sala do 3º ano A no colégio são bernardo, a roberta tacando minúsculas bolinhas de papel no cabelo das meninas que sentavam na frente, a ceretti me passando um bilhete me chamando de vaca e perguntando se a gente ia almoçar no mc antes das aulas de magistério à tarde, uma dupla dividindo fones de ouvido conectados a um DISCMAN que rodava o acústico da mariah carey. meus olhos delineados, minhas preocupações com os garotos, com o futuro, com como eu ia me tornar quem eu tinha nascido para me tornar.
eu não tinha a menor ideia.
até que um dia eu decidi reler meus diários de adolescência e, peloamordedeus, percebi que eu era muito triste. pelo menos é isso que está registrado lá.
nessa época minha família como eu a conhecia estava deixando de existir depois que meus pais se separaram; o namorado da minha mãe foi morar em casa e volta e meia ela vinha com uma conversa de mudar para o interior, o que era a matéria dos meus piores pesadelos; eu não tinha dinheiro para nada, às vezes nem para pegar um ônibus até o ipiranga, onde ficava o ortodontista, para apertar meu aparelho. tem essa fase esquisita da vida em que seus pais te dão casa, comida e pagam a escola e o ortodontista, mas você é velha demais para viver só disso e nova (ou pateta) demais para trabalhar. e aí você não pode comprar roupas, pegar um ônibus, almoçar no mc ou comprar um ingresso para o baile do singular, o que meio que tolhe sua vida social à beça.
mas por sorte minha mãe viajava bastante com o namorado dela, o que deixava a casa para mim e minha irmã. e a gente podia receber amigos e interesses românticos e ir embora noite adentro assistindo besteiras na tv e dando risada e jogando cartas OU dando uns amassos de respeito (e sabe deus como continuando virgem).
então me parece que era muito fácil ser triste nessa época, mas também era muito fácil ser feliz.
e parece que minha memória prioriza essa última inclinação, porque quando penso em 1995 eu me lembro do dedilhado do violão do nando reis abrindo “me diga”, do sol que batia na sala do 3º A quando os dias de calor voltavam, do cheiro de madeira do palco do anfiteatro, dos artigos que eu assinei no jornal da escola, da feira de ciências que a gente filmou; meu namoradinho um ano mais novo que tocava piano e atuava em uma peça que me fez rir muito mas cujo nome eu não lembro; das cartas, as muitas cartas que nós meninas adolescentes escrevemos umas para as outras prometendo lealdade eterna e um belo futuro, o futuro que merecíamos, o futuro onde não sabíamos como chegar, mas onde chegamos todas e para mim ele realmente foi muito melhor do que eu podia imaginar do alto dos meus 17 anos.
*
faz quatro meses e alguns dias que eu fiz 44. muito do que eu quis eu fiz e todas as coisas tiveram sabor.
algumas eu lembro, outras estou aprendendo a lembrar.
MATERNIDADE E OUTRAS PIRAS
presentinho
o milo veio assim do nada.
do nada MESMO: para ter o dom, eu tinha levado seis anos e três fertilizações in vitro; quando comecei a passar mal no que eu achava que era mais ou menos o meio da pandemia (setembro de 2020, kkkkkk mal sabíamos nós né), achei que estava com covid. fiz o teste, deu negativo, mas ainda não cogitei gravidez porque era muito improvável que aos 42 do segundo tempo (também conhecido como anos), e com o histórico de dificuldades pregressas, eu tivesse simplesmente engravidado NATURALMENTE.
e aí eu fui botar uma roupa para lavar e quando senti o cheiro do amaciante quase vomitei. nesse minuto eu soube ‘caralho, tô grávida’, porque eu tinha tido essa exata e muito específica reação ao cheiro de amaciante na gravidez do dom.
comprei um teste de farmácia e quando mijei no palitinho o bagulho só faltou gritar MINHA FILHA SE TOCA, de tão azul que as linhas ficaram. eu desacreditei. nos seis anos em que eu tentei engravidar do dom, e mesmo em um bom tempo antes, no meu primeiro casamento, eu já tinha mijado em muitos palitinhos, sempre na esperança de ver o segundo risco azul, o que nunca acontecia.
mas de repente toda sua vida pode mudar.
o dom talvez não existisse não fosse a minha insistência. o milo é uma graça – de graça – de deus. uma luz que me deram de presente, bravo e sorridente, todo molinho e afetuoso, a cara do meu pai e o corpinho pernudo do meu avô, os homens da família vindo para me dizer que ainda tem alguma coisa aí.
SÓ OUTRAS PIRAS MESMO
o vazio mental
ontem finzinho da tarde eu tava cortando batata doce de casca roxa em forma de canoinha, pra fazer assada, e eu acho um desafio cortar batata doce assim, de canoinha, porque os tubérculos são muito irregulares e a gente não pode contar com um paquímetro ou um micrômetro, tem que contar só com a sorte e uma faca mais ou menos amolada, então eu me concentro BEM. acho que isso causou um vazio mental muito grande porque logo depois, enquanto eu pincelava azeite nos tecos de batata, de repente me peguei pensando “mas afinal o que é o shaky (da turma do ronald mc donald)?”.
eu não sei vocês, mas eu acho o interior da minha própria cabeça um ótimo lugar para estar, na maior parte do tempo.
(não me respondam o que é o shaky; tenho prazer em cultivar esse pequeno mistério levemente abobalhado, como a cara do personagem em questão).
PEQUENOS PROBLEMAS, GRANDES BRAVATAS
respeite o interior da sua própria cabeça
essa semana eu tava falando “ai não lá vem essa chata aí na rádio de novo” (sim, como a flávia, eu sigo na era do rádio – e pior, rádio mesmo, além de podcast) e o ric falou “por que você não gosta dela?” e eu respondi “acho ela muito básica” e ele respondeu “rá, você sempre fala isso quando não gosta de alguém”.
(o ric é bem escolado em mim).
e aí eu reparei que isso realmente me irrita nas pessoas. não em todas, só nas que se acham muito distintas e livres-pensadoras e vanguarda do pensamento contemporâneo e únicas mas na real postam uma selfie com a legenda “minha carne é de carnaval” e outra com “todo carnaval tem seu fim” ou similares de forma não-irônica, em pleno ano de nosso senhor jesus cristo de 2022, e assinam pensatas cheias de platitudes mais ou menos bem-arranjadas para parecer um texto algo profundo, ou – PESADELO SUPREMO – às vezes fazem as duas coisas junto.
eu tenho profundo desrespeito por quem não respeita a própria originalidade.
(e eu tenho profundo desrespeito pelo heavy metal também, acho dificílimo respeitar homens daquele tamanho cantando fininho sobre morte, destruição e escuro, e depois morte de novo, enquanto um boneco-múmia gigante ou coisa do tipo é inflado ao fundo do palco e a plateia toda faz chifrinho com a mão. mas isso é outra história).
☆☆☆ sras e srs, e mesmo de férias… flávia pegorin! ☆☆☆
Barulho de rio é barulho ou… remédio?
Daí a molecada entra em férias e me vem uma imensa vontade de jogá-las no “ar livre”
A minha mãe me mandava muito pra fora. Muito. Sabe aquilo, “vai lá pra fora tomar um sooool!”. Muito. A minha mãe cresceu no famigerado “ar livre”, natural ela achar que ele conserta quase tudo, da minha cara pálida ao meu mau humor adolescente. E agora eu, grande, também acho. Tô aqui, então, mandando as meninas lá pra fora.
Daqui da minha vitamina D nível ridículo, tenho pra dizer que o ar livre (parar com essas aspas, né…) tem mesmo um negócio de remédio pra consertar quase tudo. O sooool que minha mãe mandava tomar, por exemplo, conserta como ninguém a tal da vitamina D.
Mas aqui no interior tem mais que o sooool. Tem o ar puro, claro. Não chove faz um bom mês e o ar anda meio empoeirado? Sim. As estradinhas do sul de Minas Gerais parecem um festival das cores com uma cor só lançada pra cima - cor de terra. Ainda assim, respirar nunca foi tão agradável.
Porque aquela inalada traz o cheiro do cipreste; da madeira no fogão de lenha; e, vá lá, do escapamento do Fusca meia quatro que sobe aqui a estradinha uma vez ao dia.
E o visual? Árvore que não se acaba, de todo tipo, sendo minha favorita a araucária por motivos de dar pinhão; não, acho que minha favorita é o ácer; não, o cipreste mesmo; não importa.
Ah, tem o rio também, que opera em todos os sentidos - não de fluxo de água, de sentidos mesmo.
O rio corre ali abaixo, no vale, e faz barulho desde a minha cama. Mas é que barulho de rio não é barulho, é remédio. Durmo em cinco minutos todas as noites, pois que ninguém desliga o rio. É um chuá infinito que entra na cabeça e desliga os problemas e as paranoias. O mesmo acontece de perto, olhando a corredeira e as pedras e as cachoeirinhas formadas no tombo. Dá pra dormir abraçada na araucária da margem. E ainda tem o gelado da água, que anestesiou os meus pés como a minha garrafa de vinho noturna faz com os ombros.
O céu? O céu tá eternamente pintado de azul de dia e de noite. E de noite eu fico pensando nos habitantes primordiais identificando cada uma pra guiar viagem ou o que mais. “Olha lá, Cleiton, a estrela brilhante vermelha apareceu de novo, bora plantar semente”. Isso se o Cleiton parar de olhar pra cima, hipnotizado que nem eu com essa tal de Via Láctea.
Joguei as meninas pra fora em toda oportunidade pra pular pedras no rio, deitar no sol, acampar no jardim debaixo do firmamento, fazer fogueira, inalar terra da estrada, tomar café na cidade, regar as plantas, fazer cafuné no gato metido do vizinho, ouvir passarinho. Nem precisou, assim, jogar pra fora. Elas foram por vontade própria! O ar livre conserta tudo mesmo.
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AS PESSOAS NAS MINHAS FOTOS
do álbum ~momentos
o aniversário de 40 anos do ricardo acho que foi a vez que o apartamento da francisco leitão ficou mais cheio e até hoje eu não sei como os vizinhos não reclamaram. na foto, pessoas-de-festa-24-horas – ric, eu, gustavo f., renata n., bernardo c. abril de 2016.
Eu também escrevia em diários e quando resolvia ler os mais antigos ficava impressionada com a quantidade de detalhes e sentimentos que eu necessitava anotar...parece que se não fizesse isso não teria valido de nada e hoje eu nem tenho mais essas anotações, mas sei que a eu de hoje iria achar muito drama pra nada....kkkkkk como sempre fui do time das antissociais e tímidas era a única forma de por pra fora o que havia passado e naquele momento era importante escrever tudo o que sentia...era triste, mas era assim que me sentia alguém. A gente continua aqui, pra ler seus textos, cheio de referências dos melhores anos das nossas vidas...kkkkkkkk e a Flavinha pra variar continua uma poetisa.... ❤️ seria pedir muito uma foto da Sabrina? Só lembro dela neném no GQDN.
e o ric falou “por que você não gosta dela?” e eu respondi “acho ela muito básica” e ele respondeu “rá, você sempre fala isso quando não gosta de alguém”.
eu consigo ouvir esse diálogo na minha cabeça. veia a saudade de ouvir ao vivo.
(sdds também da baita festa! aquela noite foi loka.)